domingo, 17 de maio de 2015

SOMBRA



Sombra

Transite entre meu âmago e minha face. Julgue aquilo que estou fazendo e sentencie minha atitude irracional. Aprove meus pedidos, divulgue minha falha, confirme minha razão. Diga-me se estou fazendo da melancolia minha vida e da vida um mal. Com dedo em riste imponha seu ego e aponte o lugar glorioso que nunca chegarei. Juntando as mãos em aplausos sorria e acene enquanto meu pódio não tem público.
Vamos lá, criança, faça sua aposta!
Afirme a instabilidade como ponto de partida dos meus pensamentos. Com grades e cimento prenda meu ser nesse mundo restrito.
E minha vida ainda continua, mas e a sua onde está?


(J. Lima)

SILÊNCIO



Silêncio


Quando calar é necessário, mas palavras loucas saltam a boca e fazem do que seria um pensamento uma simples manifestação de sons... a alma dói, o peito inflama. Pouco a pouco o nada preenche um conteúdo antes cheio de um tudo, mas que agora parece transbordar somente por vaidade.
A sensatez nas palavras proferidas é uma necessidade que, em loucura inata, não se adéqua a seus próprios requisitos. Cada ser com seu mundo, diferenciando suas limitações de um tudo tão igual. Palavras insanas doem ao ouvido de quem vive selecionando sua sensatez, mas tudo é tão simples, tão igual, tão silencioso que calar é a solução. Calar. Não para manter o silêncio, mas para ser lúcido... comigo.

(J. Lima)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

INEBRIADOS





Inebriados



O entardecer dessa transição vital é o ponto de partida para vindouras noites frias. Aquecido somente pelo calor da ignorância e sobrevivendo apenas das migalhas oferecidas que, apesar de minimamente essenciais, são migalhas apenas.
 Presos em pequenas caixas, acoados e amedrontados por uma realidade distante ou artificial, nos fazem fantoches. Entregamos nas suas mãos as cordas dos nossos pulsos então nos controlam. Arrancamos nossos olhos e escupimos outros de madeira, logo serão as pernas, os braços e por fim seremos todo de madeira. Logo se vê que o barro não deu certo, pois de nada serve quando aquecido e quebrado, madeira é melhor de manipular. A esperança tola do plantio, aguardando-se colher novos brotos, também fora frustrada. Quando as cordas se quebram somos, então, queimados como lenha para suprir a necessidade de alguns. Algum dia, supomos, voltaremos das cinzas e novamente o mesmo ciclo se repetirá. Talvez em outras condições, em outros moldes, mas será apenas mais do mesmo.

(J. Lima)