sábado, 28 de março de 2015

DOR


Dor



Não dói. Grita, sussurra, implode, machuca... mas não dói. Essa necessidade do desnecessário.

(J. Lima)

GRITO



Grito



O vazio em seu peito há muito gritava... em um gemido silencioso seu mundo diluía-se pouco a pouco, como papel jogado sobre a água de um lago; a certeza do incerto nunca fora tão real quanto agora.
Dúvidas, que outrora eram apenas pensamentos vagos, invadiram um espaço antes ocupado por um estranho sentimento. Felicidade talvez. Um sentimento tão abstrato; uma simples palavra.
Não há uma certeza sequer. Mas o temporal se aproxima e só lhe resta aguardar que os ventos o levem. Não importa a direção, desde que o caminho seja longo o suficiente para calar os gritos daquele vazio imerso em incertezas.


(J. Lima)

sexta-feira, 27 de março de 2015

NO FIM, SOMENTE UM VASO



No fim, somente um vaso



Sinto-me vazio e cansado. A necessidade de sonhar me abandonou... Penso, a cada dia que passa, se estou no caminho certo, se devo continuar com os mesmos planos. Não tenho mais sede, estou saciado. Pensei nunca dizer isto, mas, sim, estou saciado. De translúcido a opaco. O recipiente que antes propagava a luz que recebia, agora forma uma sombra monótona.
Decerto queria ser um vaso quebrado, sem concerto. Sou, porém, um vaso que sequer saiu da prateleira. E, como tantos outros, talvez não seja notado e permaneça ali com a poeira aguardando a próxima geração fazê-lo antiquado, inútil. 
Queria também que meus cacos, nas mãos do oleiro, servissem pra alguma coisa... sei que não servem. Não sou uniforme. Não somente a argila me compõe, também o cristal.
Quero refúgio, não tenho. Então descubro que além de argila e cristal, sou de ferro.


(J. Lima)


VOZES


Vozes



As vozes ecoaram nas paredes. Doces, suaves, ferinas por vezes, mas sempre gritantes naquele silêncio interno.
Muitos foram os dias sem rumo. Desnorteado pelas várias direções sopradas ao ouvido. Belas vozes. Algumas chamavam, clamavam, choravam – não que fosse possível distinguir sentimentos em todas aquelas nuances – quando finalmente cessaram.
Olhei ao meu redor e o que antes parecia uma lotada estação de trem, com o vai e vem das pessoas, agora era somente eu... calado. Talvez tenha assassinado todos aqueles infelizes sons, como faria um louco qualquer, e talvez eu o tenha feito. Silenciar cada um desses “eus” que calaram tão de repente, pode ter sido uma boa ideia... por enquanto.
(J. Lima)