sexta-feira, 27 de março de 2015

NO FIM, SOMENTE UM VASO



No fim, somente um vaso



Sinto-me vazio e cansado. A necessidade de sonhar me abandonou... Penso, a cada dia que passa, se estou no caminho certo, se devo continuar com os mesmos planos. Não tenho mais sede, estou saciado. Pensei nunca dizer isto, mas, sim, estou saciado. De translúcido a opaco. O recipiente que antes propagava a luz que recebia, agora forma uma sombra monótona.
Decerto queria ser um vaso quebrado, sem concerto. Sou, porém, um vaso que sequer saiu da prateleira. E, como tantos outros, talvez não seja notado e permaneça ali com a poeira aguardando a próxima geração fazê-lo antiquado, inútil. 
Queria também que meus cacos, nas mãos do oleiro, servissem pra alguma coisa... sei que não servem. Não sou uniforme. Não somente a argila me compõe, também o cristal.
Quero refúgio, não tenho. Então descubro que além de argila e cristal, sou de ferro.


(J. Lima)


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