Inebriados
O entardecer dessa transição vital é o ponto de partida para vindouras noites frias. Aquecido somente pelo calor da ignorância e sobrevivendo apenas das migalhas oferecidas que, apesar de minimamente essenciais, são migalhas apenas.
Presos em pequenas caixas, acoados e amedrontados por uma realidade distante ou artificial, nos fazem fantoches. Entregamos nas suas mãos as cordas dos nossos pulsos então nos controlam. Arrancamos nossos olhos e escupimos outros de madeira, logo serão as pernas, os braços e por fim seremos todo de madeira. Logo se vê que o barro não deu certo, pois de nada serve quando aquecido e quebrado, madeira é melhor de manipular. A esperança tola do plantio, aguardando-se colher novos brotos, também fora frustrada. Quando as cordas se quebram somos, então, queimados como lenha para suprir a necessidade de alguns. Algum dia, supomos, voltaremos das cinzas e novamente o mesmo ciclo se repetirá. Talvez em outras condições, em outros moldes, mas será apenas mais do mesmo.
(J. Lima)